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sábado, 4 de outubro de 2008

OS DOIS LADOS DA MOEDA


- OS DOIS LADOS DA MOEDA -

Autores: Adriano Siqueira e Cintia Lacerda


Suzana girou a chave devagar e prendeu a respiração. Esperava que o miserável tivesse tido a decência de livrar-se de qualquer vestígio da presença das vagabundas que costumava trazer em casa, no horário em que ela trabalhava. Abriu a porta e surpreendeu-se ao encontrar sua amiga Rachel sentada, segurando uma xícara de café, com um sorriso irônico nos lábios.
- Tenho uma surpresa para você. No seu quarto – disse Rachel, permanecendo na sala.
Em cima da cama e espalhado por todo o chão do quarto estava seu marido.. completamente dilacerado em pedaços! Lembrou do seu anel naquele dedo que agora estava no chão perto dos seus pés.
"Maldita!! Matou meu marido e agora me quer também ... mas não serei fácil..." Esforçando-se para conter o pavor que a dominava, Suzana virou-se e deparou com Rachel, parada à porta.
- Enfim sós...
*****
Na semana anterior, Suzana estava organizando as fichas da biblioteca onde trabalhava, como era seu hábito ao final do expediente, quando uma mulher alta, muito pálida, com cabelos negros até o ombro, aproximou-se do balcão.
- Estou procurando livros sobre anatomia humana. Pode me indicar onde estão?
- Nós já estamos fechando... não poderia vir amanhã cedo?
- Infelizmente não tenho tempo de vir durante o dia. Será que você não poderia abrir uma exceção? – a mulher pousou sua mão na de Suzana, que arrepiou-se ao sentir aquele toque frio - Prometo que serei rápida...
- Está bem.
Em poucos minutos a mulher estava de volta com o livro. O telefone tocou. Era o marido de Suzana.
- Sim... Por que? Quem está com você? Por que faz isso comigo? – ela desliga o telefone, esforçando-se para conter uma lágrima.
- Problemas? - Suzana balançou a cabeça afirmativamente - Aceita tomar um café comigo?
******
Um executivo cinquentão acompanhara Rachel até o apartamento. Suzana sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha enquanto observava-a servindo o vinho ao convidado. Minutos depois, o homem já estava entregue aos encantos de Rachel. E, horas depois, Suzana encarregava-se de limpar o sangue do quarto, não deixando qualquer vestígio. Rachel observava-a limpando o chão.
- Bela bunda a sua... – ela desferiu um tapa nas nádegas de Suzana, erguendo-a pelos cabelos e jogando-a na cama – Hoje a noite vai ser longa.
****
Todas as noites Suzana fazia o mesmo ritual, deixando a casa perfumada à noite e sempre torcendo para que tudo acabasse rápido. Então a campainha tocou. Era um homem à procura de Rachel e perguntou se poderia espera-la. Suzana estranhou, um homem que conhecia Rachel e ainda estava vivo.
Ele sentou-se no sofá e olhou para Suzana como se fosse contar um segredo. Porém apenas perguntou se estava feliz por morar com Rachel. Suzana disse com a cabeça baixa que morava com ela porque queria continuar viva.
O homem colocou a mão no rosto dela. Suzana sentiu um arrepio percorrer seu corpo, e ele deu um sorriso.
Rachel chegou em casa sozinha. Suzana perguntou-lhe porque não havia trazido ninguém. Ela mandou que Suzana se calasse, perguntando a seguir se alguém havia procurado-a. Suzana balançou a cabeça em sinal afirmativo e Rachel começou a quebrar tudo a sua volta dizendo:
- Desgraçado! Ele está aqui! Maldito, maldito!
Rachel agarrou o cabelo de Suzana e dizendo-lhe que esta noite tudo vai acabar...
Suzana esperou Rachel virar-se, e atacou-lhe arrancando o braço... Rachel olhou o braço no chão e começou a gritar de raiva...
- Vai me pagar sua vagabunda...
Mas Rachel não teve tempo para reagir. Os golpes eram cada vez mais fortes até que ela caísse no chão desfalecida... Suzana quebrou a cama, pegou um pedaço de madeira, e enfiou no peito de Rachel... Tudo estava terminado...
O homem assistia a tudo da janela, orgulhoso de sua nova serva. Agora sabia que ela era de sua total confiança.

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